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Mulheres indígenas: uma luta por mais direitos e justiça

Por Marjorie Barros Bock

Mulher indígena, da etnia Guarani M'bya, em apresentação das etnias

de Ijuí na Praça da República. Foto: Laura de Moura Pimentel

Esta é a história de uma mulher que se negou a fazer parte de uma minoria social na qual a segregação e a estigmatização tomam conta, com um discurso machista e racista sobre as diferenças raciais e de gênero. É mulher, indígena, e pertence a uma parcela de pessoas que batalham diariamente para ganhar espaço em uma sociedade em que predomina a discriminação.

Nascida do povo kaigang, da terra indígena Guarita, Laisa Sales Ribeiro assumiu com protagonismo a missão de acabar com a invisibilidade histórica que seu povo sofre pelo preconceito. Em 2004 ingressou no curso de Ciências Biológicas da UNIJUÍ, onde graduou-se cinco anos depois. Especializou-se em Educação Indígena pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 2013 e atualmente é mestranda em Antropologia Social na Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Laisa descobriu que era capaz de defender e garantir o reconhecimento dentro dos espaços onde ocupa através da educação.

 

Acabar com os esteriótipos presentes nas aldeias. Valorizar a participação das mulheres indígenas nas instâncias de decisão. Buscar autonomia para as mulheres na criação de suas próprias organizações. Maiores possibilidades de acesso aos cursos de formação superior. Laisa não desistiu. Como não desistirá. Ela desenvolveu trabalhos com o Programa Escolas Interculturais de Fronteiras (PEIF), realizando palestras e oficinas sobre a cultura indígena em escolas, no Brasil e na Argentina. Seu objetivo é a luta pelas minorias sociais. As palavras de Laisa revelam que mesmo quando parece que nada conspira a favor, a busca pelo reconhecimento continua: “Só queremos lutar pelos direitos de todos em uma sociedade excludente”.

“Nós somos a memória, somos a história e a cultura desse país. A sociedade ainda não aceita isso, o indígena ainda é visto como algo do passado e estagnado”.

Cada povo tem seus mitos. A diversidade mitológica instiga uma reflexão na maneira como os povos autóctones retratam a mulher. A mulher confere um significado sagrado para a sua comunidade. É através dela que a vida acontece. Ela é a peça fundamental na luta histórica dos povos indígenas. O que elas buscam hoje é a reivindicação de direitos próprios de seu gênero e o fortalecimento de antigas lutas de seus povos.

“Nosso objetivo de luta não é apenas discutir o gênero, o povo indígena é coletivo e é recíproco”.

É necessário refletir sobre o contexto em que as mulheres indígenas estão situadas. Um limite entre a prática do feminismo, mas também a necessidade de proteger sua própria cultura. Não é simples falar sobre o feminismo em culturas ancestrais que seguem uma dinâmica patriarcal. Vivemos os feminismos. No plural. Em um processo com diversas vertentes e minivertentes dentro do feminismo.

 

Doutora em Direito, professora da Unijuí, e atuante em temas de gênero, feminismo e direitos humanos, Joice Graciele Nielsson explica que o movimento feminista indígena visa proteger os direitos das mulheres, mas sem afetar o desenvolvimento de sua cultura. As políticas públicas desenvolvidas voltadas aos povos indígenas mostram que ainda falta uma certa sensibilidade quanto às questões das mulheres. As demandas reivindicadas por elas demonstram que a união de suas vozes desenvolve um discurso a partir da perspectiva de gênero.

 

A maior luta das mulheres indígenas e feministas é que a cultura mude por dentro. Que essa luta vise o empoderamento da mulher, ganhando papéis de liderança. Valorizando a tradição e a cultura do povo indígena nas quais elas estão inseridas. A luta não deve vir de fora e se transformar em uma atitude corrosiva à cultura indígena.

 

“Hoje em dia já não lutamos mais com arco e flecha, hoje o nosso arco e flecha se transformou em caneta e papel. Se é através disso, do diálogo, da burocracia que precisa... então a gente vai dar isso para eles, essas são as nossas armas agora”, finaliza Laisa.

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